20/01/12

janeiro 2012 - histórias recebidas III

Numa aldeia vivia uma rapariga, chamava-se Madalena e passava os tempos livres a escrever poesia.
Quando chegaram à escola, a professora perguntou que profissão queriam ter, todos diziam  que queriam ser futebolistas, bailarinas, veterinários, mas quando chegava a vez da Madalena a turma ria-se porque ela queria ser escritora. A professora, vendo aquela algazarra, pediu à Madalena para ler, a turma ficou espantada com o seu talento e no dia seguinte pediam-lhe para ler e ensinar-lhes poesia.
Catarina Luís, 12 anos, Escola Básica da Venda do Pinheiro

– Como se inventa uma estória?
– Primeiro a ideia germina na célula mais pequenina do cérebro. Cresce, desce pela nuca e quando chega ao pescoço vira à direita escorregando pelo braço. No cotovelo tem que se encolher que o espaço é apertado. Quando chega ao pulso respira fundo e sorri feliz, está pronta a sair pelos dedos.
– Mas como fazes, afinal?
– Acho que as ideias andam no ar à procura de uma cabeça. Às vezes escolhem a minha.
Quita Miguel, 52 anos, Cascais

João e Toni encontraram-se no Nosso Café para a habitual tertúlia. João julgava-se erudito. Toni era um sábio humilde. Quando dialogavam sobre a essência de cada um, Toni afirmou: João, és um altruísta! O interlocutor registou como metalinguagem: egoísta! João remoeu o “vitupério”. Toni tinha cancro no pâncreas. João distanciou-se… Toni faleceu. Tempos depois, relembrando-se do amigo, João sentiu-se impelido a procurar no dicionário a “ofensiva”. Diante da ignorância e mau proceder, chorou, pediu perdão. Grande lição!
Elvira Camarinha, Braga, 45 anos

Calça azul apertada, blusa branca, lenço amarelo ao pescoço, ténis roxos, sorriso aberto, cabelo loiro despenteado, olhos verdes em cara morena, todo o autocarro olha para ela, a correr para a paragem, ofegante. Cheia e mal fechada, a mochila azul no braço chocalha e reclama com os seus passos acelerados e sacudidos. Salta, entra, mostra o passe, o “laranja” anda, trava, oscila, ela desequilibra-se, a mochila cai ao chão, abre-se e numa algazarra, esparramam-se as 77 palavras!
João Paulo Chora, 52 anos, Estoril

O Simão tinha 10 anos e umas orelhas enormes. Os amigos provocavam-no por causa disso. Os inimigos gozavam com ele pelo mesmo motivo. Mas a Francisca adorava contar-lhe segredos, segredos que eram reservados apenas àquelas orelhas, as únicas sempre disponíveis para a escutar, para a entender.
O Simão tinha umas orelhas enormes, mas a Francisca gostava dele assim e, com o tempo, ele também aprendeu a gostar…
E a opinião dos outros? Bem, isso nunca mais interessou!
Rita Vilela, 46 anos, Paço d'Arcos

Sem comentários:

Enviar um comentário