Nasci precisamente na altura em que a fábrica
centenária ia fechar. Pertenci ao último grupo fabricado, uma remessa especial,
destinada a clientes especiais. Levados para o escritório, inadvertidamente caí
e rolei para debaixo de um armário. Quando, meses mais tarde, despiram a
fábrica, alguém me encontrou. Observou-me com olhos de água transparente.
Guardou-me.
Esse alguém morreu ontem. Encontraram-me na sua secretária, pequenino, gasto, encaixado nas páginas do caderno onde escrevera todos os seus poemas. O país chora-o.
Esse alguém morreu ontem. Encontraram-me na sua secretária, pequenino, gasto, encaixado nas páginas do caderno onde escrevera todos os seus poemas. O país chora-o.
Ana Paula Oliveira, 55anos, S. João da Madeira
Desafio RS nº 37 – o lápis caído no chão
Sem comentários:
Enviar um comentário