31/07/20

Fernanda Malhão – desafio 74

Percorria aquele salão com as memórias a sobrevoarem a sua cabeça. Os vidros partidos das janelas deixavam entrar o frio vento do inverno. As tábuas do chão rangiam a cada um dos seus passos e até um rato atrevido cruzou-se no seu caminho, mas estava tão embriagado com as imagens que lhe apareciam que nem notou. Pudera, quem viu aquele salão cheio de música, de pessoas, de gargalhadas custava a crer no nada em que se transformara.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 74 – nada em que se transformara

Alda Gonçalves – desafio 197

Um temporal de cores
O temporal era tão intenso que parecia um furacão mas de repente serenou, e o céu ficou colorido de violeta. Com esta distração toda, o trabalho estava muito atrasado, mais um motivo para me sentir amarelo de pânico. Seria uma desilusão não ver a publicação surgir entre o azul pálido da contracapa da revista do próximo mês. Viver com felicidade, só é um fruto castanho de trabalho e dedicação, numa paleta de cores a destoar grandes ideias.
Alda Gonçalves - Porto, 53 anos
Desafio nº 197 ― pares de palavras e cores

Alda Gonçalves – desafio 215

O caso da pintora cega
Havia uma distância enorme, entre eles. Um caso raro no mundo, não fosse a notícia ter-se espalhado. Uma mulher cega de nascença pintava com as mãos, lindos quadros sobre paisagens polares. E ele dizendo que nada valiam, queimava-os na lareira acesa. Até ao dia em que a máscara caiu e a verdade foi revelada. Sem ele imaginar, ela fazia sempre um como teste e outro que enviava ao cuidado das nações unidas, para a embaixada em Lisboa. 
Alda Gonçalves - Porto, 53 anos
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

Elsa Alves – desafio 59

Hoje parei junto ao prédio onde moravas. Onde, um dia, te esperei. NÃO sabia se estavas em casa. NÃO adivinhaste que eu estava ali. NÃO tínhamos combinado nada. NÃO toquei à campainha. NÃO te telefonei. NÃO havia telemóveis, então.  NÃO vieste à janela. NÃO desceste a escada. NÃO abriste a porta. NÃO nos encontrámos. NÃO era provável tal acontecer. Isso NÃO me desagradava: o que NÃO se espera NÃO nos desanima. Às vezes, ainda te espero assim.
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 59 – 14 vezes a palavra não

30/07/20

Margarida Fonseca Santos – desafio 215

Pensamento positivo, repetia, num teste à minha paciência, como se a notícia pudesse ser boa, que não era. Não seria um pensamento do mundo new age a fazer a diferença. Mantive aquela lengalenga à distância, não se desse o caso de funcionar mesmo e ficar de mãos a abanar na minha teimosia pessimista. Já muito de noite, ensaiei um ligeiro pensamento, positivo, bonito. E não é que me senti melhor? Raios, agora só lhe apareço de máscara!
Margarida Fonseca Santos, 59 anos, Lisboa
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

Verena Niederberger – desafio 215

Terça de Carnaval.
O casamento ia mal.
Resolveu último dia, sozinho, aproveitar.
notícia baile famoso logo se espalhou.
No salão, copo nas mãos, aguardava.
A orquestra teste fazia.
Música começou...
Todo mundo alegre dançava.
Ele na esposa pensava.
Estava tendo um caso com seu melhor amigo.
Subitamente, a distância, uma linda mulher aparece.
Discretamente se aproxima.
Formam um par perfeito.
Conversa vai, conversa vem
Clima de romance reina entre o casal.
Máscara cai.
Esposa beija marido.
Verena Niederberger, 69 anos, Rio de Janeiro, Brasil
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

Fernanda Malhão – desafio 215

De mãos dadas percorriam as margens do rio, de vez em quando abraçavam-se, sorriram, de longe conseguia-se ver que era um caso de cumplicidade mútua. Este encontro tinha de acontecer, nem a distância, nem o tempo, nada neste mundo impediu que continuassem a sentir algo muito forte um pelo outro. Já não era preciso nenhuma máscara, agora eram livres. Não era preciso nenhum teste para validar o que sentiam. Deram a notícia que partiriam juntos numa viagem.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

Ana Paula Oliveira – desafio 215

O teste deu positivo! E agora?
Agora tinha um caso bicudo para resolver.
Como iria dar a notícia ao seu pequeno mundo, tão fechado, onde se guardavam todas as distâncias? Como foi possível ter-se deixado cair em tentação? Como se esquecera dos votos?
Não resistira a uns insinuantes olhos azuis, nem a umas mãos maliciosas entranhadas nos seus longos cabelos. Estremeceu.
E agora?
Iria deixar cair a máscara de santa e ficar com a criança nas mãos.
Ana Paula Oliveira, 59 anos, S. João da Madeira
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

Toninho – desafio 215

Bastou a notícia do aniversário da Júlia, que os jovens se agitassem sobre qual traje. Única loja de locação na cidade fervia com teste de roupas. No convite era claro, caso não fantasiado, não entraria.
Sem ser convidado Joãozinho improvisou um disfarce. Mas suas mãos suavam nos bolsos, medo da revelação. Na distância alguém o gritou. Sentiu que seu mundo caíra. Colocou a máscara de fantasma.
No salão, sentiu uma mão gelada no ombro.
Segurança ou fantasma?
Toninho, 64 anos, Salvador-Bahia-Brasil
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias
Publicado aqui: Desafio 215

Fernanda Malhão – desafio 73

Inscrevi-me mesmo sabendo do retorno incerto do investimento. Depois, pelo caminho, duvidei tantas vezes desta escolha. Sabendo que foi uma decisão apenas minha! Depois de ter percorrido tanto caminho, desistir não é opção! Sigo em frente sabendo que a cada passo estou mais próxima do fim. Esse é o lema que me mantém a caminhar depois de já ter perdido grande parte da motivação. Espero em breve terminar esta tarefa, sabendo bem o seu elevado custo pessoal.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 73 – frases com sabendo e depois

Helena Rosinha – desafio 214

Pendendo sobre o peito, a LETRA inicial do seu nome. Era a única concessão que fazia. De resto, fugia de tudo que se relacionasse com LETRAS. Sem gosto pela leitura — que horror, tanta página de LETRA miudinha! — enveredar por Ciências foi a opção tomada. Mas, azar! Até nas fórmulas se utilizam LETRAS. Desistiu do curso, pediu dinheiro emprestado e montou um pequeno negócio. Feliz, a vida parecia finalmente encarreirar-se. Aí começaram a aparecer as LETRAS para pagar…
Helena Rosinha, 67 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Elsa Alves – desafio 58

Com a UNHA esmagou a ABELHA pousada no banco de MÁRMORE. Estavam lá CARAMELOS. Não os QUIS. BORRIFOU-se... Deu-lhes um PONTAPÉ. ENTERROU-os junto ao lago, OUSANDO apanhar um NENÚFAR. "HAVERÁ aqui algum JACARÉ?" MURMUROU: "Não tenho medo: sou um super-herói... "IMOBILIZOU-se, folheando o LIVRO, oferecido pela enfermeira. RUBORIZOU-se. SUSTEVE a respiração. Aos ZIGUEZAGUES, o DOUTOR apanhou-o. "Não FUJAS. Hora do tratamento. " TREMEU da cabeça aos pés Não VERTEU uma lágrima, mas XINGOU o médico e o hospital...
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 58 – tabela de 2 palavras obrigatórias para o alfabeto, uma à escolha

Chica – desafio 215

Ainda com a máscara no rosto, 
o cirurgião aparece para a família que 
angustiada aguardava o término do procedimento.
O esposo tremia, 
suas mãos mostravam o nervoso. 
Quando olhava para o médico
a poucos passos de distância
um mundo de pensamentos povoava sua cabeça. 
Sabiam que o caso era complicado, 
mas esperança sempre fez parte de duas vidas. 
notícia chegou como teste ao seu coração:
Mãe e quíntuplos passam bem!
Quíntuplos? 
O pai desmaiou de susto!
Chica, 70 anos Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

Natalina Marques – desafio 215

O CASO estava difícil de resolver. Tinha as MÃOS trémulas, não sabia se passaria no TESTE.
O seu sonho era ser hospedeira, pois adorava viajar, queria conhecer o MUNDO.
A NOTÍCIA da queda do avião não a perturbou, simplesmente pensou que todos partimos um dia, seja pelo que for.
A família tentava dissuadi-la da ideia, mas ela mantinha-se à DISTÂNCIA, sempre que podia, evitava conversas.
Quando recebeu os resultados, a MÁSCARA caiu, o medo instalou-se no rosto.
Natalina Marques, 61 anos, Palmela
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

Rosélia Bezerra – desafio 215

Em tempo de mudança pelo mundo, urge, mais do que nunca, revermos contatos reais e virtuais.
Muito à distância de máscara de toda espécie, devemos pormo-nos nos relacionamentos por inteiro. 
O mundo carece de mãos laboriosas, não sejamos como teste dolorido, não caçoemos dos amigos, nem seja caso perdido toda forma de doação fraterna. 
É necessário irmos pelos caminhos da sobriedade, respeito mútuo. 
Caminho de transparência seja nossa notícia doravante, inibindo toda sorte de depreciação do outro.
Rosélia Bezerra, 65 anos, ES, Brasil
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

Helena Rosinha – desafio 112

O anúncio, bem claro, destaca-se num fundo escuro
“Precisa-se passeador de cães”. 
Ocupação mais estúpida… mas, podias tentar. Telefona, vá, mexe-te! Claro que consegues, és esperto (“Espertos são os cães”, costumava dizer o avô). Mexe-te, estúpido. Mexe-te! Precisas de dinheiro. É um tiro no escuro? Às escuras ficas tu se não pagares as contas; e não vai ser a esperteza a alumiar-te. Talvez se fosses tratador… sentir-te-ias mais útil… menos estúpido.
(…)
— E eles não mordem, D. Clara?
Helena Rosinha, 67 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 112 – 3x5 palavras no texto

Fernanda Malhão – desafio 71

– Não quero mais!
– Filho, faz só mais uma página!
– Mãe, já estou demasiado cansado para isso!
– Mas, filho, só ainda passou uma hora!
– Só uma hora? Impossível, estou aqui infinitas horas! Quando é que eu posso ir brincar?
– Quando tu acabares os deveres de casa!
– Isso é a mesma coisa que nunca!
– Que exagerado! Quanto mais reclamas mais demoras!
– Todas as mães são umas chatas!
– Muito obrigada, filho! Acaba esses trabalhos!
Lá continuou mesmo que a suspirar.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 72 – frases de 2, 3, 6 ou 7 palavras

Desafio nº 215

Para este desafio, terão de escrever um texto que inclua as seguintes palavras:

máscara      mãos     caso      teste     mundo      notícia      distância

Fácil? Esqueci-me de dizer que não pode ter qualquer relação com a pandemia atual.

O meu ficou assim:
Mantinha-se a pouca distância e, com a cabeça de soslaio, levantava e baixava o olhar repetidamente. Contorcia as mãos para confirmar que o mundo não estava congelado, era apenas o tempo que teimava em arrastar-se. Bem sabia que nunca passaria num teste de paciência e, ainda assim, ali estava, especado para o caso de chegar a hora. Pelo vidro na porta, espreitava e ansiava por qualquer cara de máscara que viesse, por fim, dar-lhe a grande notícia.
Isabel Peixeiro, 37 anos, Mafra
Desafio nº 215 7 palavras obrigatórias

29/07/20

Elsa Alves – desafio 57

A gata do Gonçalo era muito gira... Ele chamara-lhe Gabriela; ela teria preferido Gracinda. Mas, enfim... Gabavam-lhe o garboso passo. Era graciosa a caminhar. Grave era a sua gulodice. Miava por gelados. Adorava gemadas, bem doces. E geleias? E gelatinas? Mas era elegante: gordura nem uma grama. As outras gatas invejavam-na. Adorava um gato, tão guloso como ela. Eram gourmets dos genuínos... Viviam numa pequena garagem. Tinham três gatinhos. Orgulhosos pais gabavam-nos imenso.  "São gulosos como nós..."
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 57 – palavras começadas por G em todo o texto, estando entre cada palavra com G, poderá haver até três palavras livres

Matilde C – desafio 37

Monstro, eu sou um monstro. Em nenhum momento duvidei disso.
Vivo livre de remorsos pelos crimes que cometi, consciente do sofrimento que provoquei e do horror que originei.
Creio que sou, por isso, visto como um louco, como um homem doente pelo mundo inteiro. Possivelmente porque muitos têm medo de reconhecer que existem indivíduos cruéis e preferem crer que um distúrbio tomou controle do seu cérebro.
O que eu penso? Todos nós podemos cometer feitos surpreendentemente terríveis.
Matilde C, 13 anos, Odivelas
Desafio nº 37 – uma história sem usar a letra A

Fernanda Malhão – desafio 71

Sempre que
O medo chegar
A dúvida te perturbar
O desânimo tomar teu corpo
O cansaço pesar demais nos ombros
Lembra-te de agradecer por todo o caminho
Tudo o que já sonhaste, lutaste e construíste
Cada gota de suor, cada minuto do teu trabalho
Tudo foi aprendizagem, experiências de uma vida, degrau na subida
Lembra-te que a fé foi o impulso que te fez avançar
Segue confiante que fizeste o teu melhor, o futuro é uma incógnita.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar    
Desafio nº 71 – frases de 2 a 12 palavras

27/07/20

Fernanda Malhão – desafio 70

Deambulou sozinho durante o amanhecer, percorreu a vereda repleta de orvalho. Por ali fora foi experimentando todos os sons e aromas. Tinha saudades da terra onde cresceu. Olhou as casinhas da aldeia todas reconstruídas, agora ainda estava ainda mais bonita. No caminho passou pela velha figueira, havia esquecido que no seu tronco estava gravado um coração com as iniciais do seu nome e da sua esposa. Esse amor resistiu ao tempo e deu frutos assim como aquela figueira.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 70 – frase de palavras obrigatórias

Elsa Alves – desafio 214

Com os meus quatro aninhos comecei a ir para casa da menina Adélia. Todas as tardes." Vais aprender as primeiras letras." Explicou-me a minha mãe. Não abri a boca. As primeiras letras? Mas... eu sabia-as já todas. Até conseguia juntar algumas. Todas não. Seria bom ir para casa da menina Adélia. Que ia muito lá a casa. Que eu adorava. Que contava histórias como ninguém. E que, sim, foi quem me iniciou no vício das letras. Abençoada!!!
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Elsa Alves – desafio 55

Aquela ARROGÂNCIA era absolutamente excessiva! Causava IRRITAÇÃO ouvi-lo, gabando-se da sua sabedoria, exibindo sempre RESPOSTA imediata e peremptória. Acharia que lançava LUZ sobre todas as nossas dúvidas? Nenhum PROBLEMA era para ele insolúvel. Que enfado ouvir-lhe a voz agressiva. Não deixava ESPAÇO para nenhum de nós. Quando falava, ninguém se atrevia a esboçar um MOVIMENTO. De INÍCIO agradara-me aquela força. Mas depois, era uma SORTE quando se ia embora. Ficava uma CALMARIA agradável... Então, podíamos partilhar opiniões...
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 55 – reescrevendo um texto com contrários de palavras impostas, escritas num texto prévio

25/07/20

Fernanda Malhão – desafio 69

A janela já estava aberta, por de trás do pano aparecia a doce Aurora com um ligeiro sorriso. Hoje as aulas acabavam, seria a desforra! Tinham prometido encontrarem-se de tarde nas traseiras da escola, sem o conhecimento de ninguém. Na hora marcada, lá estavam os dois, sentiam um fogo a aquecer-lhes a barriga, no início só se olharam, mas João sem hesitação deu um beijo nos lábios de Aurora, que ficou estanque, não tinha pensado neste desfecho.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 69 – lista de palavras, onde se inclui desforra

Fernanda Malhão – desafio 68

Tinha escrito aquele texto com tanto carinho, sentia-se mesmo inspirada, sorria e suspirava enquanto escrevia! Todo o seu coração estava ali representado em palavras. Mas o insensível leu-o e teve o desprezo de dizer que nunca tinha lido algo tão ridículo lido em toda a vida. Amarrotou a folha e deito-a com violência ao lixo, mas não acertou no alvo. Saíram os dois de rompante, um para cada lado. Desataram de vez o laço que os unia.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 68 – imagem de uma folha amarrotada

Carla Silva – desafio 205

Vicente revirou o olhar perante o diálogo telefónico de Policarpo, que com ar destemido e valente dizia um disparate atrás de outro. 
E pensar que aquele ser de triste figura, além de presidente da pequena vila, ainda era seu parente...
Começava a perder a paciência. Mas também quem o mandou aceitar ser tesoureiro da junta de freguesia como meio de ocupação?!
Devia ter dado ouvidos à mulher e, já que se reformara, aproveitar para renovar a cabana.
Carla Silva, 46 anos, Barbacena
Desafio nº 205 ― sílaba TE

Toninho – desafio 214

Numa noite de Lua compôs a letra do samba enredo. Com uma letra de jornal escreveu no papel de enrolar pão.  Depois noites perdidas pela canção, que agitasse a Sapucaí. No Morro da Mangueira a velha guarda tira de letra um samba enredo bem ao pé da letra. Sonhou com Cartola cantarolando o samba. Sorriu ternamente, era o som.
letra, na boca do povo ecoou pela arquibancada. A escola desfilou cantando bonito no carnaval da vitória.
Toninho, 64 anos, Salvador-Bahia, Brasil
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»
Publicado aqui: Meu samba enredo

24/07/20

Judite – desafio 208

Beatriz é alma em oferenda. Desde o berço que a conheço assim. Silenciava-se, dando paz à agitação dos outros. Aquietava-se sempre!
Um dia, fruto das suas reflexões, pensou que o silêncio simbolizava passividade. Mudou! Passou a falar, dando-se inteiramente. Não entenderam. Calavam-na, deturpavam a sua doação, entendiam reivindicação.
Quebrada, gritou. Talvez percebessem – aquilo que não imaginavam ser o abandono de si. Condenaram-na. Recatou-se!
Ocultando-se, é dádiva silenciosa.
Nem todos entendem esta mensagem: "Sou luz em oferenda, recebam-me."  
Judite, 28 anos, Santarém
Desafio nº 208 ― fotog menino à janela

Elsa Alves – desafio 54

– Significado dos provérbios? Em PALAVRAS simples digo-te: a REGRA é interpretá-los metaforicamente. Não há EXCEPÇÃO...
– Então o que quer dizer "Quem vai ao MAR, avia-se em TERRA?"
– Prepararmo-nos sempre para uma situação difícil, evitando SUSTOS desnecessários.
– Sem OUSADIA, avô?!? Tem alguma graça?!? Ficaste em SILÊNCIO. Diz alguma coisa!
– Digo-te que estou a ficar cheio de SEDE. Tanta conversa... E tu deves querer comer, decerto. Mas, só tenho pão ...
– Vai... Lá diz o provérbio" A FOME é negra"... 
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 54 – pares de palavras com sentido contrário

Fernanda Malhão – desafio 67

Encheu o peito de orgulho! Estava mesmo satisfeito com o seu feito! Já havia tentado várias receitas para perder peso, mas nada parecia ter efeito! Até que como por feitiço, descobriu um sujeito que tinha um novo jeito de encarar o emagrecimento. No início foi estranho, parecia que tinha entrado para uma seita, mas depois deitou os seus preconceitos no lixo, aceitou o desafio e logo percebeu que o efeito comunidade era mesmo importante para o sucesso!
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 67 – 8 palavras com EIT

Helena Rosinha – desafio 214

— Faz as letras do meu nome!  Agora as letras do pai e da mãe!
Em cada folha um nome, um desenho para enfeitar as paredes do quarto.  São a sua paixão: letras e desenhos. 
— Mãe, o céu, tão grande, só tem estas letras??? E mar, que nome tão pequenino… depois, às vezes eles zangam-se!!!
— Pois zangam, revoltam-se com tanta barbaridade… olha, esta palavra tem muitas letras.  Já, “dor”, que pode ser enorme, também é pequenina… 
— E Amor?
Helena Rosinha, 67 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Fernanda Malhão – desafio 66

Não havia maneira de se entenderem, o Sr Ambrósio afirmava que era um 66. O Sr Augusto, estava inflexível com a sua perspectiva: era um 99. Naquela discussão, levantaram a voz, trocaram adjetivos pouco simpáticos, gesticularam vigorosamente, e quando estavam quase na agressão física, uma menina pegou o Sr Ambrósio pela mão e levou até o lugar do Sr. Augusto, e fez o mesmo com o Sr Augusto. Os dois homens olharam-se e perceberam a sua estupidez.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 66 – números 66 e 99

Elsa Alves – desafio 53

Incompreensível aquela obsessão com o basquetebol. Sem conversa sobre mais nenhum assunto, se esse desporto viesse à baila, era ver-lhe o entusiasmo. Sabia todas as regras, da sua história não lhe escapava um pormenor, se falavam da NBA ficava com os olhos em bico. Dribles, passes, arremessos, assistências, afundanços, pontes-aéreas, faziam parte do seu vocabulário quotidiano. As paredes do quarto cobertas com fotografias dos seus jogadores preferidos.  
Pena ser só jogador de sofá. Nunca pegara numa bola...
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 53 – uma imagem, bola de basquetebol (literal ou metafórica)

22/07/20

Theo De Bakkere – desafio 214

O trauma
Detestou ler de voz alta, dava-lhe tonturas por reconhecer tantas minúsculas naquela cacofonia de letras.
Ao ler, os olhos fixavam as letras das sílabas, um dedo seguia lentamente para não perder nenhuma letra pronunciada.
Porém, tudo acabava mal, normalmente usou o pretexto que ninguém conseguirá decifrar um escrito em letra do médico. Desta vez o subterfúgio não ajudou, as letras estavam de letra redonda. Ainda bem, o professor entendeu o trauma, pois esse aluno sofria da alexia.
Theo De Bakkere, 69 anos, Antuérpia-Bélgica
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Fernanda Malhão – desafio 65

Pastorisa guarda em seu nome sua origem, nasceu do amor proibido entre o Pastor e Isa, a filha do governador. O escândalo obrigou o casal fugir. Pastorisa, foi sempre arrojada, era robusta e ágil, tornou-se numa industrial e negociante de mão cheia: Um dia, foi ver uma herdade cujo dono estava endividado, o pobre homem quando ouviu seu nome, perdeu a voz, pois deduziu rapidamente que seria sua neta. E assim o destino uniu novamente aquela família!
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 65 – chamavam-lhe

Elsa Alves – desafio 52

Dantes, precisava de ter, sempre, a MÚSICA ligada. Conseguia lá estudar sem ter a Françoise Hardy a cantar. (Na altura eram moda as canções francesas...) Depois também foram os Beatles – que revolução! E tantas outras bandas. Adorava aquele RUÍDO forte. Hoje – o que a idade faz – quero mais é SILÊNCIO. Ponho os auriculares e não incomodo ninguém. Mahler, Bartók... mas, quando é Beethoven... Ah! Tenham paciência... esse é para ouvir-se bem alto e a casa estremecer toda...
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 52 – uma história com música, ruído e silêncio

Fernanda Malhão – desafio 64

Depois do fim, as pessoas saem do cinema com os olhos ainda entorpecidos com o acender das luzes, pernas adormecidas por estarem tanto tempo sentadas, e a mente ainda dividida entre o enredo da história e a sensação de estarem dentro dela e a confrontação com o retorno a realidade. Durante alguns segundos digerem a história, quantas vezes frustradas e até irritadas por ela não ter tido o fim que gostariam que tivesse. É apenas um filme!
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 64 – texto começando por “Depois do fim…”

21/07/20

Elsa Alves – desafio 51

Debaixo das pedras só lhe via os olhinhos. Pretos. Brilhantes. Rolavam em todas as direções. O corpo mantinha-se escondido. Gradualmente, aventurou-se, para se alagartar ao solinho quente. Seria uma inofensiva sardanisca? Ou um sardão venenoso? Eu, indecisa, considerava-lhe a forma do corpo. Para mim, que tudo tinha a ver com escrita, adivinhava um esse ou até um ponto-de-interrogação. Intrigada, aproximei-me, mas a misteriosa criatura escapou-se para o seu refúgio. Deixou-me na dúvida: sardanisca? Sardão? Esse? Ou ponto-de-interrogação?
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 51 – sobre uma imagem de Francisca Torres

Natalina Marques – desafio 214

– Estás triste, Joana. Porquê?
– A minha professora disse que tenho que mudar a LETRA. Eu já mudei de LETRA montes de vezes,
– Mas diz para mudar de LETRA, ou mudar a LETRA? A tua LETRA é bonita.
– Mudar a LETRA.
– Então, alguma palavra que escreves tens que mudar alguma LETRA
– Já sei: é o meu nome, que em vez de escrever com a LETRA J, escrevo a LETRA G.
– Ó Joana, andas com a cabeça na Lua.
Natalina Marques, 61 anos, Palmela
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Verena Niederberger – desafio 214

Verbena sempre teve problema com letra do seu nome.
Desde sempre, era vítima de chacota.
As pessoas trocavam letra e a chamavam de Serena.
Sempre, alguns, teimavam em inventar letra diferente para seu nome.
Verbena era gerente de banco e lidava com letra de câmbio.
O seu trabalho tirava de letra.
Tempo foi passando.
O sonhado dia do seu casamento chegou.
Na hora de assinar sobrenome marido:
F I N C K E L S T E I N E R.
Parecia uma verdadeira sopa de letra.
Verbena ficou serena.
Verena Niederberger, 69 anos, Rio de Janeiro, Brasil
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Fernanda Malhão – desafio 214

– Que letra horrorosa! Os nomes devem começar sempre por letra maiúscula! Ainda estás aqui? Estás sempre atrasado pois estás sempre a dar a letra com os amigos!
O menino que levava tudo ao pé da letra, respondeu:
– Se estivesse sempre a dar a letra já estaria era mais adiantado! De letra em letra se vai ao longe!
Com aquela letra do menino, a professora sorriu e até cantarolou uma música cuja letra não lhe saía da cabeça.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Helena Rosinha – desafio 69

Que INÍCIO de TARDE — janelas todas ABERTAS e nem uma aragem! As moscas aproveitam, claro. Pego no PANO da loiça e zás! Olha, o vizinho da frente, mal me viu recomeçou com a cantoria, “… o PROMETIDO é devido…”  Embora o nosso CONHECIMENTO seja recente, há dias, após LIGEIRA HESITAÇÃO minha, saímos para jantar. Agora espera um programa meu, para DESFORRA. FOGO! Devia ter PENSADO bem nas implicações, só que, decididamente, razão e emoção não são compartimentos ESTANQUES.
Helena Rosinha, 67 anos, Vila Franca de Xira 
Desafio nº 69 – lista de palavras, onde se inclui desforra

20/07/20

Fernanda Malhão – desafio 63

Saiu de casa apressadaficou logo presa no trânsitoPresa no trânsito decidiu não ficar nervosa e pôs a sua música preferidaAo por a sua música preferida, começou a cantar e deu por si a dançarA dançar sorriu e fez sorrir as pessoas que estavam paradas nos carros ao ladoNos carros ao lado, os semblantes preocupados mudaram. Tudo parecia mais leveMais leve também ela ficou, até se esqueceu que saiu de casa apressada.
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 63 – fim de cada frase é igual ao início da próxima…

Elsa Alves – desafio 50

Isto de férias, agora, é uma chatice. Toda a malta as tira em AGOSTO. Pronto, fica tudo cheio. Chez nous, só se for no Alentejo.  Mesmo assim não sei, o turismo rural está tão na moda. Dantes tiravam-se férias A GOSTO: escolhia-se a época desejada. Agora não. A CONTRAGOSTO também tirei férias nesse mês. Por causa dos miúdos. Vamos passá-las em casa. Vai ser um sossego. Assim não teremos o DESGOSTO de sofrermos no meio de multidões... 
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira 
Desafio nº 50 – Com as palavras AGOSTO; A GOSTO; A CONTRAGOSTO; DESGOSTO

Carla Silva – desafio 206

Os Noivos 
Maia mordeu um pedaço de papaia e olhou a caixa que continha as recordações duma vida. 
Naquele momento os noivos bailavam abraçados enquanto ela tinha a sensação de assistir uma peça de teatro em que a qualquer momento alguém grita: "ParaiEstais a cometer um erro".
Depois o pano caía trazendo tudo ao normal.
Mas, aceitando ou não, o normal era seu pai refazer a sua vida, tal como fizera sua mãe há dez anos.
Carla Silva, 46 anos, Barbacena, Elvas
Desafio nº 206 7 plvras com ditongo «ai»

Chica – desafio 214

Quando vemos uma tarefa, pensamos positivamente que iremos tirar de letra a execução.
Porém, na hora de a executar a pressa a faz escrever com garranchos, letra desajeitada e inelegível.
Cadê aquela letra caprichada que todas professoras gostavam tanto? Sumiu? Desapareceu?
Se elas vissem agora a letra escrita nas anotações rápidas ou rascunhos, ficariam desapontadas e recomendariam umas boas folhas de caligrafia.
Mas é certo: Aconteceu a transformação da letra idosa, ainda mais após anos apenas teclar...
Chica, 70 anos Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Rosélia Bezerra – desafio 214

Era uma vez uma letra.
Letra de professora era. 
Desde pequenina, Mariana treinará a caligrafia para ter letra redondinha.
Nem professora nem madrasta davam moleza à sua letra na infância.
Cresceu com capricho na letra, recebia estrelinhas de louvor no caderno.
Quando maiorzinha, teve letra diminuída, mais tarde, aprendeu sobre relação com complexo de inferioridade.
Não se aborrecia com o fato. 
Na faculdade dedicou-se à Cadeira de Letras.
De todas letras do alfabeto, escreve letra A, sente Amor.
Rosélia Bezerra, 65 anos, ES, Brasil
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Desafio nº 214

Estão preparados? Neste desafio, vamos andar à volta de «LETRA».
Sim – há letras para escrever, letras de canções, letras para pagar, letras e mais letras.

A palavra vai aparecer, pelo menos, 5 vezes no vosso texto. Que tal?

Eu fiz assim:
Ele até nem era de levar à letra tudo o que via ou ouvia, mas com aquela letra a mensagem era bastante clara, não havia outra interpretação possível. Estranhou: um homem de letras como o seu ídolo escrever uma coisa assim tão, tão inqualificável. Ouviu uma, duas, três vezes e anotou tudo com letra de médico num papel que passou ao colega de café, esse com quem normalmente dava à letra horas a fio. A incompreensão multiplicou-se.
Paula Isidoro, 39 anos, Salamanca, Espanha
Desafio nº 214 – à volta da palavra letra»

Fernanda Malhão – desafio 62

Ali estavam bule de prata e chávena de fina porcelana, no armário guardadas há anos, cheias de pó, assistiam as aranhas a tecerem meticulosamente as suas teias por toda a parte. Esquecidas à espera de que os filhos da madame se entendessem com as partilhas.
– Ah (suspiros), será que algum dia conseguiremos sair novamente deste armário? Tenho esperança de que voltaremos a tomar chá com as mais finas senhoras da cidade.
– Queria ter o teu otimismo, meu amigo bule!
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 62 – dois objetos, numa prateleira cheia de pó, conversam

Elsa Alves – desafio 49

"Este ano não há férias no Algarve. Sossego. Herdade das Estevas." Decisão do pai. De nada serviram as nossas súplicas. A propriedade ficava atrás do sol-posto. "Enganaram-se...  A marcação é para Julho, não Junho...", a pequena da recepção desfazia-se em desculpas. Felizmente, havia a antiga casa do caseiro. Remodelada. Muito acolhedora. Sem ar condicionado... Abríamos as janelas: as melgas comiam-nos. Era vergonhoso irmos à piscina. Parecíamos ter peste bubónica. Regressámos a Lisboa. O resto dos dias: Casa!!!
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 49 – história louca de férias!

Fernanda Malhão – desafio 61

Tito era talvez mais traquina, pois tinha menos tino. O Tóni mais tímido e teimoso. Mas tinham ambos tanta energia! Também eram tolos pelas tartes de tomate da tia. Inventavam travessuras, mas tiravam notas tremendamente altas. Tocavam primorosamente tambor e trompete! Verdade, tinham muitos talentos! Quando troçavam da tia que tinha mau temperamento, não tardava, levavam tareia. Depois tudo ficava tranquilo. Belos tempos! Que transformação! Hoje, têm sucesso, trabalham como técnicos no tráfego aéreo TAP. Uns tesouros!
Fernanda Malhão, 44 anos, Gondomar
Desafio nº 61 – palavra sim, palavra não começada por T

Helena Rosinha - desafio 213

Reagi mal, claro! Perante aquela figura — cabelo escorrido até ao peito, olhos atrás dumas lentes de garrafa, a ponta do nariz a empurrar o lábio superior, as bochechas a esparramarem-se pelo maxilar — só podia reagir mal. 
– Eu, mas como? É assim que me vês?
Então ele disse que via o que ninguém conseguia ver e, por isso, aquela peça representava um amor imensurável. Não sei se percebi, mas fiquei orgulhosa do prémio que alcançou com a “figura”.
Helena Rosinha, 67 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 213 – imagem de madeira

17/07/20

Elsa Alves – desafio 48

– Que cena, Madalena... Tu viste-me aquele gajo?!? 
– Acho que a culpa foi toda tua. Quase o comias com os olhos...
– O gajo era lindo de morrer. Mas, não era preciso aquilo. Que cena! O que é que achaste?
– Vergonhoso!!! Foi o que achei. Rebaixares-te daquela maneira.
– Babei-me toda, não foi? Que cena! Tudo a rir...
– E olha: o gajo filmou-te. Aposto que vai pôr tudo no Instagram...
– Nãooo!!! Que cena!!! Que é que faço agora? Que cena!!!
Elsa Alves, 72 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 48 – diálogo em que uma personagem tem um tique de linguagem