Não era apenas uma história de 77 palavras - teria de ter no máximo 5 palavras por frase... Nasceram durante um curso na Bertrand do Dolce Vita no Porto. Aqui ficam duas delas (no blogue há muito mais do que se fez...):
Era
uma vez um homem.
Esse
homem vivia sozinho.
Nunca
tinha querido viver assim.
Ou
de outra maneira.
Simplesmente
não pensava nisso.
Os
seus pais morreram cedo.
Tão
cedo que pouco lembrava.
Um
dia, bateram-lhe à porta.
Era
uma mulher estranha.
Cansada
e perdida.
Fugia
de uma guerra.
Deixou
que lá ficasse.
Aprenderam
uma forma de comunicarem.
Habitou-se
a ela.
Um
dia acabou a guerra.
Souberam
disso por estranhos.
Mas
ela ficou.
E
deixou de estar só.
Texto de Gabriela Lopes
Hoje foi um bom dia. Pensava enquanto apagava a luz.
Finalmente tinha falado com ele. Tinha conseguido! Havia anos que não falavam.
Nem sequer se olhavam. Tinha chegado a odiá-lo. Mas agora tudo se resolvera.
Foram três anos de dor. Ele acobardara e ela sofrera. A dor levara ao
ressentimento. O ressentimento ao desprezo. Gritaram e acalmaram. Choraram e
abraçaram. O perdão chegou no fim. Finalmente eram livres!
Tânia Silva
Resta
muito pouco de mim.
Levaste
tudo o que sou.
Talvez
até o que fui.
Resta-me
o que penso, talvez.
Apago-me
na tua ausência.
E
choro.
Choro
por dentro, indigente.
Choro
por dentro, incrédula.
Afinal,
o que me resta?
Tu,
não, abandonaste-me.
Eu,
também não, roubaste-me.
Nós,
nunca, nunca depois disto.
Resta
talvez a raiva.
A
raiva que cresce, dorida.
A
raiva que semeaste, insensível.
Espero
que nunca voltes.
Espero
esquecer-te. Espero.
Resta
pouco de mim.
Resto
eu.
Texto de Margarida Fonseca Santos
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