O
hábito rotineiro, que cumpria a função social, era também um momento de
confrontação íntima. Todos os dias aproveitava o espelho para ver além do que
ali se reflectia de si. As certezas foram permanentemente muitas, sempre
rígidas, pouco elásticas. Já adulto, a mudança fazia-se suspeitar, embora
tímida e de clareza duvidosa. Repentinamente, na cerimónia rotineira anterior
ao deitar, um olhar para o espelho devolvia-lhe dúvidas intensas, que o faziam
crer numa outra cara que nitidamente observava.
António Matos, 31 anos, Lisboa
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