Muito de pouco
Eunice assomava na
janela, rosto vermelho de tanto engomar. Cabelo enrolado, remoía uma
praga colada à boca, a cabeça a doer de tanto trabalho. Por
isso, Eunice abençoava a hora em que, privada de
quase tudo mas, sentindo-se ainda privilegiada, abotoava o velho
casaco vermelho , soltava os cabelos ao vento e subia mais uma vez a rua
inclinada. Depreciava a vida dura, sem deprimir. Eunice
não tinha tempo para desperdiçar a felicidade. Sorvia-a em qualquer gota de
prazer.
Isabel Sousa, 66 anos, Lisboa
Desafio nº 144 ― 10 verbos
com certas características
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