25/03/19

Cristina Isabel Santos ― desafio 152

As lágrimas escorriam-lhe pelas mãos. Não tinha voz.
De repente, todas as feridas a tinham calado. Estavam coladas na garganta. Só os olhos falavam.
Não se conteve, atirou-se borda fora, enterrou os pés no chão seco, vazio, morto. 
A cerca velha da quinta libertava-lhe as memórias. Memórias que lhe empurravam as feridas guardadas no estômago e ficavam atafulhadas na garganta.
Isto tudo pertencia a António. Mas António, agora, era nada, como aquele chão de terra. Seco. Morto. 
Cristina Isabel Santos, 43 anos, Lisboa
Desafio nº 152 – frase de Lídia Jorge

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