01/03/19

Jaime A ― sem desafio


CAMPANÁRIO 
Era sob aquela massa,
pedra,
ferrolho e postigo,
ar macilento,
escuro táctil,
paredes e ameias,
calçadas as pedras
que escorregava
um riacho,
outrora líquido,
pedras enceradas,
o sol ecoando-se.
Nos ares, 
pássaros
e morcegos
esquecidos 
numa vã cegueira
esquiva, louca. 
O vento, 
em arco pétreo
esquece as searas 
outrora fustigadas. 
Erecta, 
distante, 
a torre some-se, 
cavalo balofo, 
tentando alado, 
o escape. 
Aquela gorda flecha
de pedra:
surdez 
de um deus 
humilde, 
busca 
vã 
duma eternidade. 
Jaime A., 54 anos, Lisboa 

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