09/10/19

Helena Rosinha ― desafio 100


Espreito o carteiro diariamente. Ele vem, toca campainhas, bate às portas, distribui alegrias, tragédias... “Não há nada para mim?”, grito-lhe, da janela. Meneia a cabeça e desanda, sacola ao ombro. Inconformada, ouço os comentários jocosos das vizinhas, “Olha, aquela também quer correspondência!"
Sofri longamente, silenciosamente, a dor do abandono. Hoje, indiferente a remetente ou destinatário, o carteiro depôs nas minhas mãos as palavras que sou. Hoje é o meu aniversário e foi por isso que me escrevi. 
Helena Rosinha, 66 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 100 – «e foi por isso que me escrevi»

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