O saco
Anda sempre com um saco sem nada dentro, o desgraçado. Intriga-nos, aquele saco sem nada dentro. Se o questionamos, vira-nos costas, resmunga, “sem nada dentro andam vocês.”
Hoje vi-o na feira, saco no chão, ao lado; gente à volta. Escutam-lhe a voz ondulante — doces murmúrios, rudes brados, alegre cantarejo. Batem-lhe palmas. Ele curva-se, remexe dentro do saco, retira a mão. Fechada. Depois, abre-a devagarinho, devagarinho, e começa nova história. Desgraçado? Um saco sem nada dentro, dizíamos nós?
Helena Rosinha, 68 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 228 – «sem nada dentro»
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