25/12/11

dezembro - histórias recebidas (take two!)


Sou a maçã mais angustiada desta manhã fria. A tristeza era a minha companhia, porque eu sabia que hoje seria a sobremesa do Francisco. A hora estava a aproximar-se. Despedi-me de todos os outros frutos meus companheiros e da lagarta que vivia em mim.  Ainda me restava algum tempo, a fuga era uma das hipóteses, mas o destino já estava marcado. A mão do Francisco aproximava-se, o terror, o coração batia forte… chegou a hora! Boa Noite.
Hugo Costa, 12 anos – Lisboa

Havia um auto-retrato de Leonardo Da Vinci, que estava exposto no museu nacional de Itália. De repente, uma rola apareceu vinda do alpendre, ela estava muito aflita mas por pouca sorte, tinha esquecido já há muito tempo onde se situava a casa de banho para rolas. Então sem saber o que fazer, não hesitou em se aliviar de imediato em cima do pobre de Vinci. Vinci ficou furibundo com aquela situação:
–  Vou inventar: um “lenço”!
Miguel Palma 12 anos, Lisboa 

Gosto de palavras, das simples e das complicadas, das rechonchudas e das delgadinhas, das que inebriam e das que desesperam.
Gosto de palavras coloridas e das esbranquiçadas, das apressadas e das molengonas, das bem-humoradas e das rabugentas.
Gosto das palavras que espreitam no final dos parágrafos e das que se escondem nas notas de rodapé, das que saltam de página e das que se seguram por um hífen.
Gosto de todas as palavras que celebram a vida.
Quita Miguel, 52 anos, Cascais
 
Marci é simpático, meigo, desengonçado. Observa tudo ao redor, com os três olhos bem abertos. As longas antenas captam sons da casa e da rua: música a tocar, gente a falar, carros a buzinar. Mas não está confortável onde o alojaram. O dono cresceu, já não dorme naquele quarto tão arrumado. Marci sente-se só, enjoado.
Quer brincar, não tem com quem.
Quer conversar, não há ninguém.
Quer ver mundo, sair. Que tristeza! Não mais se poderá divertir?
+
Sento-me, desenho e vislumbro o Sena que desliza ao som de acordeões. A Noite quer entrar. Traja um vestido de veludo negro estrelado. Como reparou em mim?
– Desenha-me – pede.
Hoje, veio sozinha sem a inseparável amiga Lua.
Desenho-a, timidamente. Traço a traço.
– Está lindo! Nunca me pintaram com tanta perfeição.
A Manhã chega, estremunhada. A Noite vai partir.
Adoro este vigésimo andar. Fica afastado da rua mas perto do céu. Aqui, a Noite chega primeiro.
Ana Paula Oliveira, S. João da Madeira, 51 anos

"Porque é que as mães são únicas e especiais, avó?", perguntou a Mia cheia de curiosidade. "Isso não tem resposta minha querida, não se conhecem fórmulas mágicas.", respondeu a Dona Felicidade. "Mas então porquê?", retorquiu a Mia num tom desconfiado, "É segredo?!", insistiu. "Não, mas a única forma é estares atenta. As mães falam com o coração e os filhos têm que deixar que olhos as ouçam!".  A Mia ficou pensativa durante segundos... E por fim, sorriu!
Vera Lúcia Marques Costa, 26 anos, Lisboa

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