Sou
a maçã mais angustiada desta manhã fria. A tristeza era a minha companhia,
porque eu sabia que hoje seria a sobremesa do Francisco. A hora estava a
aproximar-se. Despedi-me de todos os outros frutos meus companheiros e da
lagarta que vivia em mim. Ainda me restava algum tempo, a fuga era uma
das hipóteses, mas o destino já estava marcado. A mão do Francisco
aproximava-se, o terror, o coração batia forte… chegou a hora! Boa Noite.
Hugo
Costa, 12 anos – Lisboa
Havia um auto-retrato de Leonardo Da Vinci, que estava exposto no museu
nacional de Itália. De repente, uma rola apareceu vinda do alpendre, ela estava
muito aflita mas por pouca sorte, tinha esquecido já há muito tempo onde se
situava a casa de banho para rolas. Então sem saber o que fazer, não hesitou em
se aliviar de imediato em cima do pobre de Vinci. Vinci ficou furibundo com
aquela situação:
– Vou inventar: um “lenço”!
Gosto de palavras, das
simples e das complicadas, das rechonchudas e das delgadinhas, das que inebriam
e das que desesperam.
Gosto de palavras
coloridas e das esbranquiçadas, das apressadas e das molengonas, das
bem-humoradas e das rabugentas.
Gosto das palavras que
espreitam no final dos parágrafos e das que se escondem nas notas de rodapé,
das que saltam de página e das que se seguram por um hífen.
Gosto de todas as
palavras que celebram a vida.
Marci é
simpático, meigo, desengonçado. Observa tudo ao redor, com os três olhos bem
abertos. As longas antenas captam sons da casa e da rua: música a tocar, gente
a falar, carros a buzinar. Mas não está confortável onde o alojaram. O dono
cresceu, já não dorme naquele quarto tão arrumado. Marci sente-se só, enjoado.
Quer
brincar, não tem com quem.
Quer
conversar, não há ninguém.
Quer ver
mundo, sair. Que tristeza! Não mais se poderá divertir?
+
Sento-me,
desenho e vislumbro o Sena que desliza ao som de acordeões. A Noite quer
entrar. Traja um vestido de veludo negro estrelado. Como reparou em mim?
–
Desenha-me – pede.
Hoje, veio
sozinha sem a inseparável amiga Lua.
Desenho-a,
timidamente. Traço a traço.
– Está
lindo! Nunca me pintaram com tanta perfeição.
A Manhã
chega, estremunhada. A Noite vai partir.
Adoro este
vigésimo andar. Fica afastado da rua mas perto do céu. Aqui, a Noite chega
primeiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário