desafio nº 4 - primeiras histórias

É verdade, nem 24 horas passaram... Ora leiam!

Sou um bule rachado, sou um ser abandonado na prateleira, por culpa daquele açucareiro maluco.

Estava na minha tarefa diária de servir o chá ao avô António Joaquim, quando o destrambelhado do açucareiro, por culpa do Arceolindo, diz ele, esbarrou no meu bico. A água a ferver saltou para o colo do avô, que num impulso se levantou aos gritos e me fez voar. Salvaram-me as mãos rápidas da tia Bárbara, de acabar num monte de cacos.

 Quita Miguel, 52 anos, Cascais

Sou um bule rachado, sou de porcelana, gorducho, nasci branco e vou morrer de todas as cores, porque a Marta e o Miguel, os dois reguilas cá de casa, fazem de mim gato-sapato. A avó bem lhes diz que sou uma relíquia, por ser muito velhinho. Venho do tempo da bisavó dela quando me usava para servir chá com bolinhos caseiros às amigas. Mas hoje mantêm-me guardado na cristaleira desde a queda que me rachou a cabeça.

Maria Jorge

Sou um bule rachado, sou… testemunha do esplendor de uma nobre e
distinta casa. Trago comigo as memórias das inúmeras «soirées» em que
servi as mais refinadas infusões, as mais delicadas tisanas. À minha
volta, reuniram-se os mais elegantes penteados, as mais requintadas «toilettes»…
Mas não pensem que deploro a minha actual condição, consequência do
descuido de uma mão desastrada…

Nunca fui tão feliz como agora: albergo no ventre o amor perfumado de
um pé de sardinheira.

Carlos Alberto Silva, Leiria