As vidraças tiniam, iluminando-se quando o monstro urrava. As garras
arranhavam a porta pesada, chocalhando ferragens oxidadas. A língua gélida
passava pelas frestas e lambia-nos os tornozelos. Eu perscrutava o rosto da
minha mãe, concentrado nos alinhavos, tentando decifrar alguma expressão de
alarme. Encolhida, mudava os vestidinhos de papel às bonecas de cartolina.
Então, a mãe rodou o botão do velho rádio. A música do “Serão para
trabalhadores” banhou de luz a cozinha acanhada. O monstro morreu!
Maria José Castro, 53 anos, Azeitão
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