13/06/15

A velha peúga

A velha peúga passeava pela carris, discretamente, ainda que toda engelhada.
O ralo pêlo denunciava o uso abusivo a que estivera sujeita.
Precisava espairecer, tinha de haver alguma justiça na sua desgraçada vida.
Andara sempre aos saltos, nos escorregas, molhada, malcheirosa, sentia-se uma ruína.
O velho relojoeiro de olhar ausente quase se sentara em cima.
A envelhecida mão, roxa de frio, puxou-a de modo doce, içando-a.
Depois, envolvida pelos outros dedos azuis, adormeceu no metro, sonhando quente.

Amélia Meireles, 62 anos, Ponta Delgada

Desafio RS nº 26 – 7 palavras impostas em 7 frases de 11 letras

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