O peso da vida escoada de afetos tornava-se, vezes sem conta,
insustentável. A força que o dever emprestava fazia-a mais forte, mais
aguerrida, mais surda ao desânimo. Uma família grande redopiava à sua volta.
Surda ao cansaço cumpria os dias desenhados pelos que a rodeavam. Existia
simplesmente. Apenas o seu desempenho denunciava a sua existência. Uma
existência somente habitada pelo alheamento dos outros. Sem lugar para si mesmo
foi derretendo o desejo de viver. Deixou-se subsistir vazia.
Amélia Meireles, 63 anos, Ponta Delgada
Desafio nº 109
– solidão no meio de gente
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