Em
campanha
As comitivas das duas listas concorrentes à associação de
estudantes do colégio feminino cruzam-se num corredor. Um encontrão incendeia
os ânimos. Começam as provocações. Esgotando-se os argumentos, vêm os insultos,
que sobem de tom e baixam de nível.
― Sua esta, sua aquela!
― Isso és e a tua mãezinha!
Até que surge o ultraje mais rasteiro, a ofensa suprema:
― Sabes o que és, sabes?
― Não, mas tu vais dizer-mo, não é?
― Vou. És uma grandessíssima e refinadíssima… po-lí-ti-ca!
Carlos
Alberto Silva, 59 anos, Leiria
Desafio RS nº
23 – história de mulheres
Mais contos aqui: ficcoesbreves.blogspot.pt
Carlos, senti que estava a ver os morangos com açúcar, mas a sua escrita alicia-me muito mais, sem qualquer sombra de dúvida. Foi terrível sentir que chamar esse insulto a alguém é um dos maiores insultos possíveis. Mas no tempo em que vivemos não deve haver pessoas que num momento de notícias de corrupção com políticos ou num momento de angustia que a vida nos traz não lhe tenha passado esse "palavrão" pela boca. A verdade é que desejo que seja uma dócil palavra que nos devolva a humanidade das nossas vidas, porque só conseguimos viver juntos com uma organização política. Obrigada por ter escrito tão bonito e que fez pensar e questionar estas coisas. Cumprimentos Eurídice
ResponderEliminarOlá Eurídice. Obrigado pelo seu comentário. Sempre me recusei a ver os Morangos com Açúcar, mas lido com jovens estudantes desde sempre e sei que são capazes do melhor e do pior. Quanto ao «epíteto», já o vi usado por gente crescida, quando não tem mais insultos «aceitáveis». A expressão foi mesmo «Seu... seu político!»
EliminarTambém acho que a (boa) política é fundamental para melhorar a vida das pessoas, mas infelizmente o uso que dela se faz a tem afastado da sua função mais nobre.
Cumprimentos. Carlos A. Silva