Fogo Que Arde e Que
se Vê
O gesto mecânico de Rosalice, ao pegar,
displicente, a bata de florzinhas miúdas ao dependuro no costal da cadeira,
denunciava o fraco ânimo que a minava. Sozinha estava desde a perda do único
amor na estúpida guerra, mas ver-se agora sem metade da casa, reduto
apaziguador que o fogo vivo indecorosamente gualdripara, plantava-se-lhe no
peito a angústia inevitável, tornada contumaz companheira.
À soleira da meia-casa de horizonte esfumado,
sentia o ardor das lágrimas a avivar-lhe a ferida.
Elisabeth
Oliveira Janeiro, 74 anos, Lisboa
Desafio nº 152 – frase de Lídia
Jorge
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