Que pena por um sorriso em fogo, pensa. No entanto, é com sorriso que ele vê uma pena em fogo. Mas fogo, para um sorriso de pena, recorda com tristeza. Foi neste devaneio inicial que se propôs efectuar a viagem da sua vida. Viagem essa, tantas vezes adiada mas com os 77 superados, não mais irá parar. Assim esperamos. Foi assim que desafiou o desafio. Com uma gargalhada sem piedade nem chama. Foi assim que tudo começou.
Pedro Nunes, 44 anos Lisboa
"O pastor que sonhava voar"
Pedro Nunes, 44 anos Lisboa
Um enorme sorriso pairava na sua boca enquanto
espreitava por entre as cortinas. Será que hoje ela ia aparecer à janela?
Esperava ansiosamente, horas, por vezes… só para a ver espreguiçar-se ao sol!
Quando a via, sentia um fogo dentro de si. Uma
alegria enorme e só lhe apetecia saltar pela janela para se aninhar junto a
ela! Esperava... e seu coração palpitava…
– Gatolas… outra vez à janela! – disse-lhe a
dona.
– Miau! (que pena… hoje não apareceu)…
Sandra Lopes
Um
menino conheceu uma menina e convidou-a para jogar à bola.
Um chuto
e ela balança pelo quintal do vizinho! Atropela uma galinha que quase voa.
Riram. O
vizinho protestou. Riram mais e ficaram amigos.
Passaram
a brincar todas as tardes, até as mães os chamarem.
Cresceram
juntos até cada um seguir o seu caminho.
Mais
tarde reencontraram-se. Já crescidos. Ele convidou-a para jogar à bola. Não
havia galinha para quase voar… mesmo assim, riram os dois.
Marta Almeida, 34 anos, Lisboa
(a história não corresponde ao desafio, mas ficou tão engraçada que decidi pô-la aqui!)
"O pastor que sonhava voar"
"O fogo varria a planície. Francisco estava em perigo, ele e
as ovelhas que tinha levado a pastar. Subiu a uma azinheira, o mais rápido que
pode, pois as chamas já lhe mordiscavam os calcanhares. Ao longe avistou um
monte, verde, livre de chamas. – Se ao menos o pudesse alcançar! – Sentiu-se
leve, leve como uma pena! Deu por si a voar, em direcção ao monte. Acordou com
um sorriso: afinal, estava só a sonhar."
O fogo que lhe incendiava o coração escapava-se-lhe ao controlo,
iluminando um sorriso puro e
envergonhado.
Ana Reis Felizardo, Lisboa, 46 anos
Ana Reis Felizardo, Lisboa, 46 anos
Como podia algo, que acabara de
enxergar, despertar nela aquela sensação de ausência de arestas, aquela certeza
de quebra-cabeças resolvido, aquele sentimento de completude?
Era um amor inexplicável que
sentia no perfume suave das rosas, no solo quente debaixo dos pés, na pena que esvoaçava em direcção ao lago.
Era a união com a terra e a
certeza de lhe pertencer.
Quita
Miguel, 52 anos, Cascais
Se for
pequeno é amigo
Se
for grande pode ser perigoso,
Agora
está sempre comigo
É
grande, mas amistoso!
Podia
ser nocivo, até fatal,
Ou
servir apenas para produzir calor,
Mas
este fogo dentro de mim
Tem
apenas um nome: Amor.
Agora
não consigo fugir
Já nem
o consigo evitar.
Sinto-me
leve, solta, livre,
Tal
qual pena a esvoaçar.
O sorriso
que tenho no rosto?
Nem
dá para esconder,
Este
amor, esta paixão,
Esta
vontade de escrever!
Sandra Lopes
Após doze anos,
ainda desencadeias o meu sorriso,
genuíno e profundo! Continuas a enriquecer os meus dias!
Na tua ausência,
não há pena. Há boas lembranças do
encanto que nos une. Intensas! Anseio pelo reencontro e, muitas vezes, a espera
não se aquieta. Cá dentro, tudo oscila num vaivém de forças que dialogam e se
entrecruzam entre si, sempre num mesmo percurso, numa mesma imagem: tu e eu,
envoltos no fogo da paixão ardente.
Amo-te, meu amor!
São Almeirim, 49
anos, Montijo
SORRISO
Quando
virei o rosto e vi aquele sorriso lindo e exuberante meu coração foi atingido
por um raio fulminante qual fogo
impiedoso e cruel queimando uma floresta numa noite quente de verão. Aquele sorriso invadiu o meu Ser. Um desejo
incontrolável me invadiu. Desejava-o só para mim. Guardá-lo, escondê-lo onde só
eu o poderia ouvir. Impossível, jamais seria meu! Pertencia a alguém que chegou
antes de mim. Pena?! Sim, talvez
estivesse ali o oásis da minha felicidade.
Arlete Leitão, 47 anos São João da Madeira
AMIZADE
O sorriso no rosto de Xavier desfez-se, no momento em que olhou pela
janela e viu o fogo que deflagrava
na floresta. Como era possível?!?! A sua floresta encantada…
Precisava de ajuda!
– Vem
comigo mamã. Precisamos salvar o pardalito Jerónimo, a lebre castanha, …
Não acabou a frase. Lá vinha o
Jerónimo a grande velocidade em busca de auxílio.
– Já
vamos amigo – disse o Xavier, determinado –, nem uma das tuas penas se há-de queimar.
Carla Cardoso, 38 anos, Maia
E as histórias da Maria Jorge:
O GATO
Enquanto a casa dormia, Pedro
espreitava a Lua pela janela. Estava triste e com pena
recordava o gato tigrês que não resistira a dias de agonia. Convivera
com ele desde pequenino e mais do que um animal de estimação, tinha sido um
amigo. Acordava-o para ir para a escola. Nunca mais teria esse carinho que tanta
alegria lhe dava. Mas uns toques no vidro trouxeram-lhe uma surpresa. E com um sorriso, recebeu o gatinho cor de fogo.
O RELÓGIO
A Marta e o Tiago quiseram
visitar os avós. Mas quando chegaram encontraram o senhor Anastácio a lançar fogo pelas ventas. Era uma pena o avô estar tão furioso, e com um sorriso
triste perceberam que não iriam ter a diversão que desejavam. Quando
perguntaram à avó o que se passava, ficaram a saber que ele tinha perdido o
antigo relógio que pertencera ao seu bisavô. Tentaram ajudar e descobriram-no
dentro do livro favorito do senhor Anastácio.
O NEVÃO
A viagem até às montanhas para
esquiar estava planeada há semanas, mas quando o dia chegou, a Filipa e o
Bernardo depararam-se com o manto branco de neve que tinha caído durante a
noite e os pais já não quiseram ir. Era uma pena
perderem a diversão, mas se passassem o dia junto do fogo
à lareira com jogos e brincadeiras, iria ser igualmente divertido.
Entusiasmados e com um enorme sorriso nos
rostos, reuniram todos os amigos.
O CAMPISMO
Com um fim de semana grande a
agenda foi programada para umas miniférias em família. Como o
campo era o lugar preferido na primavera, a Marta e o Miguel ajudaram os pais a
carregar o jipe com tendas e sacos de cama. Era uma pena
os primos não poderem ir, mas livros e jogos não iriam faltar, nem as lanternas
e a viola para as noites à fogueira. Com um sorriso,
recordaram a canções junto ao fogo.
AS SOLAS DOS SAPATOS
Enquanto a Sara e o Sérgio
aceitaram o conselho da mãe para dormirem a sesta até poderem voltar à praia ao
fim do dia, o pai decidiu ir dar um passeio. O Sol estava tórrido, mas ele
prolongou a caminhada pela tarde toda. Quando regressou, mostrou com um sorriso aos filhos, as solas derretidas e a
exalarem fogo. Era uma pena ter ficado sem os ténis, mas tinha criado
motivo de risota para o resto das férias!
O PNEU
A viagem de regresso a casa
corria tranquila até que se ouviu um estouro. O pai parou o carro e a mãe ficou
preocupada. Enquanto o pai foi inspecionar o veículo para detetar o problema, o
Manel saltou para a rua munido com um extintor.
— Onde é o fogo?!
— Não há. É só
um pneu furado.
Manel desfez o sorriso.
— Que pena. Queria ser um heroi.
— Ajudas-me com
o pneu e já serás um! — respondeu o pai.
*P.S.: A história de AS SOLAS DOS
SAPATOS foi tirada de acontecimentos verdadeiros.
Maria Jorge, 35 anos, Póvoa Santa Iria.
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