Dia de novo desafio, preparem-se.
Desta vez, não será um quebra-cabeças, mas sim um pedaço de um livro genial.
Não resisti a trazer-vos uma
frase de Valter Hugo Mãe,
do livro «Homens
imprudentemente poéticos», que estou a ler com paixão.
Nem sequer foi simples escolher a frase! Aqui vai:
Esperaram pelo sono para se mudarem para o dia seguinte.
O que vos surge? Não usem a frase, é só o mote para o texto.
E, já agora, parabéns ao Valter Hugo Mãe, é um livro de uma poética inquietante.
Eu escrevi assim:
Corpos encolhidos por hábito. Era
assim que pareceriam a quem os visse. As sombras, desenhadas pela fogueira,
acrescentavam-lhes um movimento que não possuíam. Aproveitando a distração da
fome, causada pelas bagas impossíveis de mastigar, mudaram de página, de dia,
de sofrimento. Dormiram na esperança de não voltar a acordar. Contudo, a noite atraiçoou-os.
Emprestou-lhes um descanso que os obrigaria a continuar caminho. E eles, por
hábito, assim fizeram. Se alguém os visse, acreditaria na morte que desejavam.
Margarida Fonseca Santos, 56 anos, Lisboa