A rua deserta, o ar pesado.
Ao longe, sons de passos apressados. Revolveu-se, por dentro e por fora. A
noite aborrecia-o sempre, esquecendo a ladainha do dia. Um novo som, desta vez
mais enigmático, aproximou-se. Um andar desarticulado, desarrumado, como se a
cadência do andar mostrasse como a vida o cadenciara. Observou-o com atenção. O
coxo cruzou-se com ele sem lhe dirigir a palavra, sustendo a respiração para
evitar o cheiro da pobreza. A noite continuou, deserta.
(texto: Margarida Fonseca Santos; ilustração: Francisca Torres)
Sem comentários:
Enviar um comentário