03/04/11

abril 2011 - pais

A rua deserta, o ar pesado. Ao longe, sons de passos apressados. Revolveu-se, por dentro e por fora. A noite aborrecia-o sempre, esquecendo a ladainha do dia. Um novo som, desta vez mais enigmático, aproximou-se. Um andar desarticulado, desarrumado, como se a cadência do andar mostrasse como a vida o cadenciara. Observou-o com atenção. O coxo cruzou-se com ele sem lhe dirigir a palavra, sustendo a respiração para evitar o cheiro da pobreza. A noite continuou, deserta.
(texto: Margarida Fonseca Santos; ilustração: Francisca Torres)

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