Quem diria...
De dia, viam-se pouco
pois cada um ia pra um lugar.
Ele ia de metrô, ela de circular.
Ela, professora de educação infantil,
carregava consigo lindo ar juvenil.
Ele, decorador, passava o dia indo de lá pra
cá,
agenda lotada, por onde começar?
Quando ela tinha um tempinho,
pra ele ligava, demonstrando carinho.
Um dia ela em casa chegou,
jantar preparou,
por ele esperou...
...ele não voltou.
Ele a abandonou.
Por outra, ele a trocou.
Quem diria...!
Majoli Oliveira
De dia, viam-se pouco, nunca tinham tempo para estar juntos, parecia que o
tempo era algo que lhes faltava, mas amor era algo que até lhes sobrava.
Encontravam-se sempre à noite, à porta da casa dela, e passavam cerca de meia
hora juntos. Porém o amor resistiu a tudo, e hoje estão casados e
felizes, até já têm um filho e pensam ter um segundo. Onde parecia só existir
falta de tempo afinal existia amor, quem diria!
Luís Peixinho, Murtosa
De dia, viam-se pouco, resguardando-se dos
olhares indiscretos. Mas mal o crepúsculo descia a cortina, abandonavam o
recato das mansardas. Acendiam fogareiros e abriam pipas. As mãos se davam a
outras mãos enternecidas. Ouvia-se o acordeão e o pandeiro e rompia o canto nas
gargantas emudecidas. Pés febris matraqueavam a calçada e a festa tomava conta
da rua, noite dentro… até chegar a madrugada. Quase pobres, pouco tinham de
seu, mas… eram ricos de alegria. Quem diria...!
Carlos
Alberto Silva, Leiria
De dia, viam-se pouco ou
quase nada!
Um entrava, outro saía de casa
apressado.
Aquela rotina se repetia, dia após
dia.
Mi e Fá eram seus apelidos carinhosos.
Mas à noite, tudo era bem
diferente.
Pareciam se transformar em outras
pessoas, amantes...
Mal se viam, faíscas de longe
apareciam
Com o olhar, faminto, quase se
engoliam.
Mas esperavam o mágico momento para
eles...
Aguardavam ansiosos, excitados a
saída do sol
Tiravam o atraso, sem dó! Quem diria!
Chica, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil