30/07/19

Desafio nº 180

Vamos lá falar de leituras de verão.

Peguem no livro que estão a ler. Sigam a marca que vos diz onde vão na leitura. 
Agora, copiem as 10 primeiras palavras dessa página
Elas estarão, em algum momento, dentro do vosso texto.
Digam-nos que livro é, para partilharmos leituras!

Do livro que estou a ler, copiei isto:
«A noite estava escura e fria. Maria já sentia as», Até que a violência nos separe, de Malvina Sousa (um retrato bem traçado sobre a violência doméstica).

Caminhou durante muito mais quilómetros do que as pernas aguentariam. Com a vida na mochila, afastava-se da casa, da dor, esperando desligar-se das memórias. A noite estava escura e fria. Maria já sentia as forças fugirem-lhe. Sentou-se no chão, encostando-se numa pedra. Não, não uma pedra, uma tartaruga. Sorriu-lhe. Podia repousar, aninhada na sua sabedoria. Quando acordou, só viu a pedra. Na sua cabeça, uma voz dava-lhe força. Levantou-se, acariciou a pedra-tartaruga e avançou para a liberdade.
Margarida Fonseca Santos, 58 anos, Lisboa
Desafio nº 180 ― 10 palavras do livro que estamos a ler

Mariete Silva ― desafio 179


Hugo vai passar quinze dias num campo de férias, o quarto está uma confusão, indeciso na seleção dos objetos, da roupa. Ao vê-lo tão atrapalhado, a mãe diz-lhe: tenta, se separas, leva, são-te úteis tenho a certeza não vale a pena exagerar, esses  dias vão passar num instantinho. Aceitando a colaboração, separou produtos de higiene, vestuário, baralho de cartas, headphones, raquetes! 
― Obrigada, mãe, vão ser dias “bué fixes”, manhãs desportivas, tardes com jogos de pista, muita emoção!
Mariete Silva, 64 anos, Beja
Desafio nº 179 ― anagramas das setenta e sete palavras

Graça Pinto ― desafio 26


Pudesse eu um dia pintar este mundo de azul, varrer o negro que se insurge e adúltera a paisagem.
Nesta terra em que nascemos, reside tudo o que temos. O ar que respiramos, a água que bebemos, o chão que pisamos e nós dá o pão. 
Mas continuamos insistindo alheios dando-lhe mau uso, atentando contra nós próprios e contra a humanidade. É urgente amarmos nosso planeta.
Fazer dele o ideal que sempre sonhámos para nossos filhos.
Graça Pinto, 61 anos, Almada
Desafio nº 26 – dedicatória para alguém

Zelinda Baião ― desafio 179

Apareceu à porta da casa, num dia chuvoso, de invernia prolongada. A pingar desventura. O corpo numa chaga. A alma em farrapos. Arredio e medroso, a recusar aproximação. Vivera sempre em liberdade, numa vida plena em que fora senhor dos seus atos, mas a rua era agora um abrigo inseguro e via aproximar-se o fim. A menina da casa deu-lhe o nome, comida e trato. Quis dar-lhe o aconchego da casa porém, Pete Natas é avesso a trelas.
Zelinda Baião, 55 anos, Linda-a-Velha
Desafio nº 179 ― anagramas das setenta e sete palavras

Manuela Branco ― desafio 172


Não havia fuga possível. Nem o leque que furiosamente manuseava aplacava a febre que nunca a abandonava. O rato que figurava na pintura a óleo à sua frente, presente de um hóspede há muito desaparecido, dava-lhe uma sensação de luxo e lixo simultaneamenteSeria do quadro, da recordação, ou da solidão que à força se habituara, fazia sentir na sua cabeça qual medusa às portas da morte, milhentas cobras prontas a devorá-la. A ela e ao rato.
Manuela Branco, 62 anos, Alverca
Desafio nº 172 ― 10 palavras incluindo Medusa

Margarida Leite ― desafio 1


A caixa de madeira
Sente uma súbita vontade de sair. Quer ir deslumbrante para espantar o tédio. Tinha de encontrar um vestido alegre. Já no sótão, vê uma velha caixa em madeira, envergonhadita, lá ao fundo. O que teria lá dentro? Abriu-a. Fogo! Eram papéis antiquíssimos, extremamente amarelecidos. Parecia terem sido escritos com uma pena, com aquela caligrafia belíssima. Lidas algumas palavras, esboçou um sorriso emocionado. Era o testamento do bisavô a deixar-lhe a herança e elogios ao seu bom carácter.
Margarida Leite, 50 anos, Cucujães
Desafio nº 1 – palavras impostas: pena, sorriso, fogo

26/07/19

Helena Rosinha ― desafio 40

Atrás do veículo em marcha lenta, calculo a manobra, torno a medir distâncias; noto as curvas e contracurvas, um toro caído. Não! Pode dar para o torto, nada de ultrapassagens ― só se fosse tonto. No rádio, as estações sobrepõem-se, “pastelaria Toronto, os melhores doces da região”, Neil Young, há quanto tempo, ? Anos setenta, Old Man, no concurso de imitações; coroaram-te, sentaram-te num trono, entrevistaram-te…
Na descida, o camião acelera, desaparece. Eu, embalado nas lembranças, continuo calmamente. 
Helena Rosinha, 66 anos, Vila Franca de Xira 
Desafio nº 40a partir de anagramas contendo as letras de Toronto

Natalina Marques ― desafio 179

Aquela miúda era incorrigível, não levava a sério os conselhos dos mais velhos. Olhava a vida como um jardim florido que nunca vai murchar, um arco-íris colorido. As festas e as noitadas eram assíduas, e a avó sempre ia dizendo...
― Oxalá nada te LEVE O PRESENTE, AS ASAS, TATA, comprometendo o teu futuro.
― Que queres dizer com isso?
― Que vais colher amanhã o que semeias hoje.
― Está bem avó, então vou semear alegria para ser feliz amanhã.
Natalina Marques, 60 anos, Palmela
Desafio nº 179 ― anagramas das setenta e sete palavras

23/07/19

Theo De Bakkere ― desafio 179


Fobias
Como podia ele ser tão parvo, embora soubesse bem, sua mulher desenvolveria logo uma fobia. Sem pensar dera sua mulherzinha o folheto oferecido pela alfândega com avisos que sempre devem tomar em consideração nos trópicos. Tentou ainda salvar a situação com um gracejo "Ó querida! Ah, não te rales, terás a peste ou outra doença contagiosa somente quando não estás vacinada".
Infelizmente o dano foi feito. Em pânico recusou deslocar nem um pé para fora de aeroporto.
Theo De Bakkere, 67 anos, Antuérpia, Bélgica
Desafio nº 179 ― anagramas das setenta e sete palavras

Mariete Silva ― desafio 139


Talvez viver seja circular, navegar no tempo.
Tu e eu gostamos muito de viver.
Talvez porque sentimos que somos almas complementares.
Tu saboreias todos os momentos muito prazenteiro.
Talvez a minha vida seja mais alvoraçada.
Tu transmites-me a cada dia a felicidade.
Talvez por isso eu te valorize tanto.
Tu compreendes o meu ritmo e aceitas.
Talvez eu esvazie muito rapidamente o imediato.
Tu e eu metamorfoseamos o menos bom.
Talvez estas diversidades sejam a nossa cumplicidade.
Mariete Silva, 64 anos, Beja
Desafio nº 139 ― todas as frases com 7 palavras ― Talvez… + Tu…

22/07/19

Helena Rosinha ― desafio 179

De nariz colado ao vidro da montra, espreitou para dentro da loja; a avó recebia qualquer coisa das mãos duma empregada com um penteado estranhamente elaborado, à Marie Antoinnete. Riu-se, Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!... Ups! Falou demasiado alto, ouviram-na. A avó veio à porta e disse, dirigindo-se à neta, “é só levares esta pasta para casa.” A pasta misteriosa! No interior, uma miscelânea de fitas, plumas, pérolas… tudo para compor uma bela máscara veneziana.
Helena Rosinha, 66 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 179 ― anagramas das setenta e sete palavras

21/07/19

Isabel Lopo ― desafio 179


Branca de Neve ao chegar encontrou os anõezinhos numa grande zaragata. Com os nervos já em franja, começou a morder a maçã... Mas a fada madrinha chegou: "Calma, miúda, nada de pânicos, resolve já isto. SÃO SETE. VÁ LÁ, TENTE! SEPARAS a miudagem e esperas pelo príncipe que gosta pouco de confusões. Felizmente cheguei a tempo. Se tivesses comido a maçã toda, acabava aqui a lenda, pois nem sempre se tem sorte como nas histórias de encantar…
Isabel Lopo, Lisboa
Desafio nº 179 ― anagramas das setenta e sete palavras

Ana Rita Nápoles ― desafio 175

Podia contar-te um segredo, mas tu já sabes
Afinal já te disse tantas vezes, sem perceberes
Seria impossível esconder algo tão importante para nós
Depois abraço-te fortemente sem soletrar uma palavra
Podia dizer tanta coisa, mas olhar-te já chega
Afinal o que nos une é puramente imprescindível
Seria difícil sobreviver sem ele, que nos alimenta
Depois aconchegas-me com palavras que me fazem sorrir
Segredando devagarinho apenas dizemos um ao outro o nosso pequeno segredo “Amor para Sempre”
Ana Rita Nápoles, 35 anos, Torres Vedras
Desafio nº 175 ― ritmo do texto predefinido

20/07/19

Desafio nº 179

SÃO SETENTA E SETE PALAVRAS!

Sim, é isso. Estas letras, baralhadas e construindo uma nova frase, dará o mote ao vosso texto. Estaremos a trabalhar os anagramas do que nos move, aqui no blogue:
SÃO SETENTA E SETE PALAVRAS.
A nova frase aparecerá onde quiserem no texto, pode ser parte de uma frase maior, ou de duas, o que fizer sentido.

Ajuda muito se escreverem a frase em maiúsculas e a tinta; depois, com um lápis, vão encontrando as palavras para a nova frase, riscando na frase a tinta as letras que já usaram. Não percam a paciência: isto faz-nos muito bem e é divertido.

Eu já fiz cinco diferentes, vou escolher a minha preferida:
Vês esta tela, então paras, és...

Podes andar pelo museu sem nada pensar, sem nada apreciar, irritado por ter-te trazido comigo, podes até achar que não vale a pena visitar museus, o que é uma pena, mas depois, vês esta tela, então paras, és levado a mergulhar profundamente no trabalho do pintor e no impacto que está a ter em ti, e aí, sim, começas a entender a arte e a emoção que ela nos traz e poderás, por fim, compreender esta visita.
Margarida Fonseca Santos, 58 anos, Lisboa
Desafio nº 179 ― anagramas das setenta e sete palavras

18/07/19

Mariete Silva ― desafio nº 86


Chico, profissão ardina, caminhava, todos os dias, com a sacola ao ombro para distribuir jornais. Sorri muito, fala a todos, assimila o valor da vida.
Os hábitos mudam a rotina; a população já não compra jornais.
Cansado, cai acabado num banco do jardim! Acorda ― a sacola foi roubada, procura, procura, nada, procura, nada, volta para casa!
Cai no sofá abatido, atordoado. Num sono profundo, vislumbra vários livros saindo da sua sacola na montra da livraria do bairro!
Mariete Silva, 64 anos, Beja
Desafio nº 86 – Chico ardina sem E

António Azevedo ― desafio 26


Nestes momentos de conclusão e metamorfose quero dizer: Obrigado! Tenho, de facto, muito a agradecer. As experiências juvenis que se transformaram em partilha de vida. A solidão que se converteu em companhia e, mais tarde, em família. Hoje sou diferente mesmo que, por vezes, isso não seja perceptível. Mas não sou só diferente. Sou mais, sou melhor. A vida tecida em conjunto contigo deu-me novas cores e tonalidades. Do meio desta conturbada mudança de vida repito: Obrigado!
António Azevedo, 54 anos, Lisboa
Desafio nº 26 – dedicatória para alguém

Mariete Silva ― desafio nº 137


Festejamos o aniversário da Rosa. A festa decorre na quinta da avó, espaço luminoso e fantástico!
Os canteiros floridos lembram o arco-íris e no meio deles um espantalho de vestes coloridas embeleza o espaço.
Ouvimos ao longe o som dos grilos, no galinheiro os galináceos cacarejam e no estábulo, um burro, observa-nos em silêncio.
Dançamos ao som da música e comemos doces e iguarias. A mãe da Rosa, acende as velas com um isqueiro. Todos cantamos felizes.
Mariete Silva, 64 anos, Beja
Desafio nº 137 ― rosa, isqueiro, burro

16/07/19

António Azevedo ― desafio 25

Não ficou verdadeiramente surpreendido com a situação. Do outro lado da secretária, duas pessoas, da coutada responsável por comunicar os despedimentos, continuavam o discurso datado. Uma conversa dolorosa, cheia de metáforas: dispensa, rescisão e reestruturação de empresa. Imaginou um sapato a chutá‑lo empresa fora. Que tolice, os sinais estavam todos lá. Uma bomba à espera de detonar mais cedo ou mais tarde. Agora é arregaçar as mangas e mergulhar de cabeça na incerteza. Velhos são os trapos!
António Azevedo, 54 anos, Lisboa
Desafio nº 25 – palavras com sílabas encadeadas

Zelinda Baião ― desafio 178

Aquela sala era perfeita: disposta em U permitia observá-la melhor. Os olhos, cor de mel, luzidios, num rosto de boneca, enfeitiçavam-no. O cabelo, preso numa longa trança, que ela atirava para trás, num gesto estudado, entontecia-o. Em rabiscos, o coração dos dois unia-se para além daquele espaço. Não se concentrava. Irada, a professora admoestou-o. Era a quarta vez que ouvia aquiloAinda esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la. Corado, guardou rapidamente o papel no bolso.
Zelinda Baião, 55 anos, Linda-a-Velha
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Helena Rosinha ― desafio 108

Contentor - lixeira 
Detentor - qualidades
Cantor - voz
Extintor - fogo
Pintor - arte
Tintor - roupas

Imaginem, então não é que a esgrouviada que vive no barracão ao fim da rua foi à televisão? Até a entrevistaram num desses programas que dizem de qualidade, da cultura, e tal… Calhou ver no café; ficámos de queixos caídos, nem uma voz se ouvia. De roupas mal aprontadas, cabelo às cores e cortado às três pancadas, sempre à roda da lixeira, a recolher cacos que ninguém quer e afinal… Fogo! Afinal parece que aquilo é Arte.
Helena Rosinha, 66 anos, Vila Franca de Xira
Desafio nº 108 ― 6 palavras que originam outras 6

15/07/19

Margarida Leite ― desafio 178


Festa na aldeia
No Verão, vinha para a aldeia. Tinha 83 anos, apreciava o campo, e o silêncio enquanto lia Cervantes.
Hoje é a festa do santo padroeiro. Era a quarta vez que ouvia aquilo no altifalante: uma pimbalhada ensurdecedora. Se fosse música! Esboçou uma frase mas não chegou a dizê-la. Evitava pecar.
O número de telefone do pároco? Viu-o, mas guardou rapidamente o papel no bolso. Não queria ofender o Santo, afinal já a tinha acudido em algumas aflições.
Margarida Leite, 50 anos, Cucujães
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Mariete Silva ― desafio 178


Inês
Naquela manhã, o pai sorrateiramente vinha do sótão, espaço nunca utilizado.
A família saiu.
Inês estava de férias, subiu, pensou fazer um esboço, reorganizá-lo, surpreendê-los! 
Paralisou! Sótão transformado num estúdio?
Era a quarta vez que ouvia aquilo – tocava a campainha?
Corre, abre a porta, esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la.
O pai carregava um Alaúde, instrumento musical que Inês estudava. Guardou rapidamente o papel no bolso.
Sonhava integrar uma orquestra, com persistência chegaria lá. Sorriu!   
Mariete Silva, 64 anos, Beja
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Isabel Lopo ― desafio 178


Finalmente a promoção! Surpreenderia a Mulher que tanto se queixava chamando-lhe “manga de alpaca”!
Juntara às flores um cartão prometendo-lhe uma viagem “de sonho”. Mas mal chegou arrependeu-se... ”Flores para quê, manga de alpaca?”
Era a quarta vez que lhe dizia aquilo. Ainda esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la... Guardou rapidamente o papel no bolso. Só de manhã ela o encontrou. Era tarde! As flores jaziam no lixo e Ele sumira rumo a outra vida...
Isabel Lopo, Algarve
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

António Azevedo ― desafio 24

Era uma conversa recorrente entre a Estica e a Bucha, duas melgas que detinham a exclusividade de picar toda a família Pessoa. A Estica ralhava, “Tens de cortar no açúcar. Escolhe melhor as alturas de picar. Vê o estado em que estás. Balofa!” “Sim, vê-se que tu estás linda”, retruca a Bucha, “Deixa-me em paz! Trinca-espinhas!” Estavam tão distraídas nesta disputa que fugiram por muito pouco das mãos que as tentavam esmagar. Em voo picado decidiram retaliar.
António Azevedo, 54 anos, Lisboa
Desafio nº 24duas melgas à conversa, uma gorda e outra escanzelada

13/07/19

Helena Rosinha ― desafio 178

Era a quarta vez que ouvia aquilo. A surdina inicial transformou-se num tropel diabólico. Tapava os ouvidos, mas em vão; sons inexplicáveis vociferavam dentro de si quais fantasmas assenhoreando-se da fortaleza. Esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la. O descontrolo impedia-lhe a fala.  Rabiscou umas palavras sem nexo. Novamente brados insistentes a pressioná-lo. Guardou rapidamente  o papel no bolso. Sair, mudar de vida era o que precisava. Abriu a janela e apanhou a nuvem que passava.
Helena Rosinha, 66 anos, Vila Franca de Xira.
Desafio nº 178  3 frases para usar no texto

Theo De Bakkere ― desafio 178


A cábula
A professora escrevera no quadro “sua prova será suspensa se usar auxiliares de memória ou o sopro do Santo Espírito de orelha”. Ainda esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la porque o diretor entrava na sala.
O João estava muito nervoso, era a quarta vez que ouvia aquilo, o aviso, agora repetido pelo diretor. A cábula estivera quase na mão quando observou outra frase. “Confie em si mesmo”. O João guardou rapidamente o papel no bolso.
Theo De Bakkere, 67anos, Antuérpia Bélgica
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Luz Câmara ― desafio 178


Um suavíssimo cântico envolveu-o, resgatando-o dos mais profundos pensamentos. Aquela música, que passava sem cessar ― era a quarta vez que ouvia aquilo ― despertava-lhe as mesmas emoções de quando a escutara pela primeira vez. Emoções de um amor tímido, envergonhado, manietado na vontade e o impedia de se declarar: ainda esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la.
Por escrito seria mais fácil, pensou, mas mal a viu, guardou rapidamente o papel no bolso e, de novo, silenciou-se. 
Luz Câmara, 58 anos, Coimbra
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

11/07/19

Natalina Marques ― desafio 178

― Não achas que estás a ser repetitivo?
― Não. Nunca ouves o que te digo. 
ESBOÇOU UMA FRASE, MAS NÃO CHEGOU A DIZÊ-LA.
Sabia que o pai tinha razão. ERA A QUARTA VEZ QUE OUVIA AQUILO.
Continuava sem lhe dar uma explicação sobre o desaparecimento das notas.
― Está bem, pai, eu conto a verdade, o Piruças arrancou-me o papel da mão quando cheguei da escola, e nunca mais o vi.
GUARDOU RAPIDAMENTE O PAPEL NO BOLSO.
Tê-lo-ia enganado?
Natalina Marques, 60 anos, Palmela
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Graça Pinto ― desafio 178


Os dias repetiam-se, sucediam-se iguais, indiferentes ao movimento de rotação da terra. Tudo lhe parecia igual, mas naquele dia era a quarta vez que ouvia aquilo. Como um sussurro, um segredo. Não conseguia precisar se seriam verdadeiras as palavras que ouvira? Tentou escrever para não esquecer pormenores, de repente olhou o seu reflexo no espelho: Viu então a realidade!... esboçou uma frase mas, não chegou a dizê-la, guardou rapidamente o papel no bolso. Estava mesmo a acontecer...
Graça Pinto, 60 anos, Almada
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

António Azevedo ― desafio 23

O delicioso cheiro, do leitão a assar, inundava-lhe as narinas. Descartando a rolha, da garrafa agora aberta, encaminhou-se para o almofariz, pois a pimenta não se esmaga sozinha. Olhou para o despertador controlando o tempo do assado. Não prestando atenção por onde andava quase caía, por culpa de uma bola de ténis ali esquecida. Um zunido sobressaltou-o ao supor que era uma vespa. Mais calmo, pegou no papel da sua receita secreta. Nada podia falhar neste almoço!
António Azevedo, 54 anos, Lisboa
Desafio nº 23 – percurso de palavras obrigatório: leitão + rolha + almofariz + despertador + bola de ténis + vespa + papel

Odília Baleiro ― desafio 178


O outro lado do mundo
De tempos a tempos rumava para o outro lado do mundo, sem perceber como isso pode acontecer na sua vida. Filha de uma pequena aldeia no Alentejo, onde o horizonte era o limite, era a quarta vez que ouvia aquilo. Porque vais atravessar o planeta? Família, filhos, netos... outras gentes. Esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la. Não valia a pena responder e guardou rapidamente o papel no bolso. Era o bilhete. Ia partir de novo.
Odília Baleiro, 64 anos, Gold Coast, Austrália 
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Graça Pinto ― desafio 177


Minhas lágrimas desoladas vidraram meus olhos, onde escondidas secaram o choro que se emancipou, calei o soluço e jurei a mim mesmo que, a partir de agora e apesar dos doestos por vezes sentidos, continuaria a agir do modo que sempre me ensinaste.
Deixei-os para trás, pois na verdade nunca fizeram parte de mim, e num impulso decidi continuar a amar como sempre fizera até ali, sem ressentimentos.
Porque mãe é mesmo assim, ama sem condicionalismos.
Graça Pinto, 60 anos, Almada
Desafio nº 177 ― imagem de Andrew Mathews

Maria Silvéria dos Mártires ― desafio 178


Cruzes canhoto
Por mais voltas que desse, o dia parecia não querer correr de feição pois no espaço de pouco tempo era a quarta vez que ouvia aquilo:
Atenção tens de fazer isto e aquilo.
Cruzes canhoto, lá vinha ele, mas desta vez esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la.
Pareceu adivinhar que eu lhe ia mandar dar uma volta ao bilhar grande.
Guardou rapidamente o papel no bolso.
Desapareceu e o dia a partir daí tornou-se maravilhoso.
Maria Silvéria dos Mártires, 72 anos Lisboa
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Filomena Galvão ― desafio 178


Já não suportava tamanha afronta. Que tortura!
Era a quarta vez que ouvia aquilo. A mãe, o irmão, a avó e a prima. Parecia que tinham combinado implicar com ela. Fez uma lista. Guardou rapidamente o papel no bolso.
Primeira decisão: iria pintar o cabelo de azul e cortá-lo-ia bem curto. No salão estranharam e perguntaram-lhe se tinha a certeza.
Esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la. Engoliu uma lágrima. Olhou-se no espelho e acenou afirmativamente. 
Filomena Galvão, 58 anos, Corroios
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

10/07/19

Chica ― desafio 178


Já não mais aguentava ouvir noticiários. Eram mentiras descaradas, deslavadas e incomodativas. Atentou ao fato que no mínimo era a quarta vez que ouvia aquilo.
Falavam em mudanças e faziam exatamente os mesmos toma lá, dá cá, que os anteriores.
Esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la.
Ficou apenas para ela, mas sentiu vontade de escrevê-la.
Nessa hora, chega o netinho sorridente querendo brincar.
Guardou rapidamente o papel no bolso. Atendeu o pedido alegre e amorosamente.
Chica, 70 anos Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Filomena Galvão ― desafio 177


Leonardo queria mudar. Estava farto da rotina. Arriscou, preencheu o formulário e entregou-o nos Recursos Humanos. Se fosse aceite iria embarcar numa vida nova num outro país, embora na mesma firma. Teria que lidar com novos colegas, costumes, uma cultura e hábitos diferentes. Era isso que o fascinava. Abrir horizontes, alargar conhecimentos. Passada uma semana deram-lhe a saber ― O pedido fora deferido. Explodiu de alegria, deu um salto. Sentiu-se leve e eufórico como se fosse uma criança.
Filomena Galvão, 57 anos, Corroios
Desafio nº 177 ― imagem de Andrew Mathews

Roselia Bezerra ― desafio 178


Pensou em evangelizar, com cautela, rezou com paz.
Já lhe havia dito antes de forma diferente a mesma coisa.
Era uma mulher independente a amiga.
Aliás, era a quarta vez que ouvia aquilo da mulher e aconselhava que orasse e confiasse mais.
Entretanto, parecia irredutível na decisão.
Desta vez, esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la.
Respirou firme. Érika não ouvia ninguém.
Guardou rapidamente o papel no bolso e a entregou a Deus.
Ele é Fiel!
Roselia Bezerra, 64 anos, ES, Brasil


Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

Desafio nº 178

Desta vez, teremos três frases que deverão aparecer obrigatoriamente dentro do vossos texto. A ordem porque aparecem é livre. São elas:

Era a quarta vez que ouvia aquilo.
Esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la.
Guardou rapidamente o papel no bolso.

Já fiz a minha:
Voltou a alinhar o cabelo, não havia meio de prendê-lo no ponto certo. Mas, caramba, era a quarta vez que ouvia aquilo. Invejas, pensava. Concentrou-se de novo: prometia-se ali riqueza e amor, mas o ar barbudo do bruxo arrepiava-a. Vinha lá o chefe, guardou rapidamente o papel no bolso. Perguntava-lhe se já fizera alguma coisa hoje, o verme. Tinha mais que fazer! Ainda esboçou uma frase, mas não chegou a dizê-la. Talvez o bruxo soubesse deitar mau-olhado…
Margarida Fonseca Santos, 58 anos, Lisboa

Desafio nº 178 ― 3 frases para usar no texto

09/07/19

Margarida Leite ― desafio

O boneco de neve
Com tanto frio, só apetecia estar à lareira. Cansados de verem filmes, os miúdos reclamam:
― Fixe era construirmos um boneco de neve.
― Ó pai podíamos ir à Serra!
A dormitar, o pai responde:
― Se a mãe concordar...
― Ó mãe, vamos?!
A mãe aceita o desafio.
No outro dia, o sol brilhava, e o pai pensou “Espero chegar antes que a neve derreta”.
Radiantes,  todos juntos construíram um fantástico boneco de neve.
Como é bom estar em família!
Margarida Leite, 50 anos, Cucujães
Desafio nº 171 ― antes que a neve derreta

Theo De Bakkere ― desafio 177

O sonho foi cumprido
João saltou, um pulo de alegria no ar. A cabra da universidade abalara pela última vez. A capa e batina desaparecerão num baú no sótão. O sonho foi cumprido, daqui em diante podia se chamar veterinário. Desde a juventude costumava passar as férias na quinta dos avós. Naquele tempo já profetizara a avó seu destino futuro, pois João preferia mais ordenhar as cabras e ir ao prado com elas do que jogar futebol com os outros netos.
Theo De Bakkere, 67 anos, Antuérpia, Bélgica
Desafio nº 177 ― imagem de Andrew Mathews

António Azevedo ― desafio 22

A campainha anunciou o intervalo da manhã. Os petizes, assim que puderam, saíram disparados porque a brincadeira os esperava. A professora olhou para o pátio agora pejado de crianças. Reparou na menina sentada no lancil com um sorriso na cara e uma flor na mão. Lembrou-se de si mesma naquela situação, desfolhando uma flor e perguntando sobre o Carlitos: “Gosto? Agora sim… agora não… agora sim… Agora gosto!” Um novo toque esvaziou o pátio. O trabalho recomeçou.
António Azevedo, 54 anos, Lisboa
Desafio nº 22 – frase simétrica

06/07/19

Elsa Alves ― desafio 167

"Chego amanhã ao nascer do sol. Vou para te arrancar a essa pasmaceira."
Que alegria quando viu esta mensagem no telemóvel! Estava tão farta daquela monotonia; daquela pasmaceira, como ele bem dizia. Era a palavra certa. Tanta calma até enervava. Não era para isso que queria viver. Queria delírios, paixão, correr pelos dias. Queria vertigens, rapidez... Mas o sol nasceu e... nada. As horas passaram e ele não apareceu.
Palerma da lesma. Ficar à espera do caracol...
Elsa Alves, 70 anos, Vila França de Xira
Desafio nº 167 ― «chego ao nascer do sol»